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Fumaça das termelétricas ajuda a produzir cimento

19/10/2017

O coprocessamento de resíduos pela indústria do cimento está dando mais um passo no combate à emissão de CO2 na atmosfera. Nos Estados Unidos, onde existem 2.775 usinas termelétricas a gás e a carvão em atividade, uma experiência na Califórnia pode ajudar a diminuir sensivelmente a liberação de dióxido de carbono – considerado o principal causador do efeito estufa.

A Calera – empresa californiana que pesquisa tecnologias para o reúso do carbono – assegura que está conseguindo retirar até 90% do CO2 da fumaça emitida pela usina Moss Landing, transformando-o em ácido carbônico e depois em carbonato de cálcio (CaCO3). O mineral é matéria-prima para a produção de Cimento Portland. Além da Calera, a Carbon Sciences, também com sede na Califórnia, faz pesquisa semelhante.

O pioneiro é o especialista em biomineralização Brent Constantz, da Universidade de Stanford. “Tudo o que precisamos é de água e poluição”, diz. O processo consiste em transformar o CO2 em ácido carbônico H2CO3, utilizando o próprio calor da fumaça para gerar água (H2O). “Da mistura de água com o gás poluente resulta uma lama de carbonato (CO3), que depois é transformada em carbonato de cálcio”, explica Constantz.

O que inspirou a pesquisa foram os corais e as ostras, que produzem recifes e conchas a partir do carbonato de cálcio, retirando o CO2 do mar e ajudando a equilibrar o pH dos oceanos. Brent Constantz chama isso de “biomimética”, ou seja, mimetizar processos químicos que ocorrem na natureza. O pesquisador lembra que a lama de carbonato é misturada à água do mar, rica em cálcio, para que seja extraído o carbonato de cálcio.

Aliança com o meio ambiente

Brent Constantz assegura que sua invenção trará um ganho ambiental significativo para a indústria cimenteira. “Em vez de minerar calcário para extrair a calcita, a fim de produzir Cimento Portland, esse processo pode ser substituído pela retirada de carbonato de cálcio da poluição”, afirma. “Estamos falando da reutilização do carbono de forma produtiva e economicamente sustentável”, completa.

Ainda segundo o pesquisador, sua invenção pode mudar completamente o ambiente construído nas cidades. “Hoje, os arquitetos pensam: como posso minimizar a quantidade de concreto que estou usando no meu projeto? A preocupação deles é reduzir a pegada de carbono tanto quanto possível. Em vez disso, podemos ver o ambiente construído como um lugar para sequestrar dióxido de carbono. O concreto pode se tornar um aliado do meio ambiente”, assegura.

Para Brent Constantz, um dos maiores beneficiados pela sua invenção pode ser o pavimento de concreto. “Em vez do asfalto, que é um grande emissor de CO2, o concreto que utiliza o carbonato de cálcio extraído das usinas retém o dióxido de carbono. Além disso, o custo da produção de concreto também tende a reduzir”, avalia. As pesquisas da Calera começaram em 2008. Já a Carbon Science, que também iniciou seus estudos em 2008, partiu para outra linha de pesquisa. O objetivo é extrair hidrocarbonetos do CO2, para transformá-los em combustível.

Saiba mais sobre a pesquisa de Brent Constantz:

https://youtu.be/LhST0dKMwY8

Crédito: Cimento Itambé